Uerj participa de pesquisa que pode ter identificado nova linhagem brasileira do coronavírus

Um estudo colaborativo envolvendo cinco instituições científicas nacionais investigou o perfil clínico, epidemiológico e laboratorial da pandemia de Covid-19, utilizando o sequenciamento de amostras do SARS-CoV-2 (coronavírus) para detectar a existência de variantes genéticas. Os professores Luís Cristóvão de Moraes Sobrino Pôrto, do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, e Rogério Lopes Rufino Alves, diretor da Policlínica Piquet Carneiro, são os representantes da Uerj na pesquisa que reúne ainda o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a Universidade Estadual de Santa Catarina (UESC).

Os pesquisadores analisaram 195 genomas, a partir de amostras coletadas de pacientes que testaram positivo para Covid-19 no período de 1 de dezembro de 2020 a 15 de fevereiro de 2021, totalizando 92 homens e 93 mulheres, com idades entre 11 e 90 anos, residentes em cinco estados: Amazonas, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba e Rio de Janeiro. Com o sequenciamento de três dessas amostras, que continham a mutação E484K, o estudo identificou uma possível nova linhagem do coronavírus originada da linhagem B.1.1.33, que circula no Brasil desde o início de 2020.

Esta nova linhagem apresenta a mutação E484K na proteína S, que é associada ao escape imunológico e, portanto, pode ter implicações para o planejamento de novas estratégias de controle da Covid-19. Os resultados do estudo permitiram também inferir as datas de origem da variante P.1 (linhagem de Manaus) e ainda concluir que a linhagem P.2 (do Rio de Janeiro), identificada no final de 2020, apresenta diversificação à medida que se espalha pelo país. Além disso, foi possível reconstruir as rotas de transmissão interestaduais dessas duas linhagens.

Vigilância genômica

Todas as informações pesquisadas foram disponibilizadas em bases de dados públicos nacionais (CoronaÔmica.BR – MCTI) e internacionais (GISAID), juntamente com a submissão do trabalho a periódico científico internacional, para validação dos resultados. Estudos colaborativos como esse poderão dar uma grande contribuição à vigilância genômica mais eficaz da pandemia, permitindo a identificação precoce das mutações do vírus e auxiliando no aprimoramento das vacinas contra a Covid-19.   

Na opinião de Luís Cristóvão Pôrto, a pesquisa é uma grande contribuição da Uerj em um momento tão severo da pandemia. “É uma oportunidade única também, pela possibilidade de construção do conhecimento e, sobretudo, pela formação de recursos humanos, treinados em um ambiente de inovação”.

Ele ressalta outro aspecto fundamental da assistência prestada aos pacientes da Policlínica Piquet Carneiro. “O atendimento à população tem sido foco de ações integrativas que permitem não só o cuidado em saúde, mas também propiciam pesquisa básica e clínica. Constituímos um banco de dados clínico-laboratoriais e um biorrepositório de amostras que já têm nos possibilitado mapear e definir novas variantes do vírus aqui no Rio de Janeiro, além de estudos da imunopatologia da doença e de resposta à vacina”, conclui.