Ambulatório Pós-Covid do Hupe-Uerj reduz filas de atendimento, impulsiona pesquisa e formação especializada

O quanto uma iniciativa pode mudar a vida de uma pessoa, uma família ou mesmo de uma população? A resposta pode ser conferida na atuação dos projetos desenvolvidos pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) da Uerj, com descentralização de recursos da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ).  Como destaca o coordenador de Assistência Médica do Hupe, o médico urologista Rui Teófilo de Figueiredo Filho, o trabalho tem possibilitado a ampliação do atendimento, com oferta de consultas e procedimentos de média e alta complexidade. “Conseguimos reduzir a fila em diversas áreas, democratizando a saúde para quem mais precisa. Além do aspecto assistencial, esses projetos proporcionam ambiente fértil para o desenvolvimento de pesquisas e treinamento profissional”, explica Rui.

O médico pontua que o esforço conjunto tem sido fundamental. “Especialmente para minimizar os impactos da pandemia nas filas de espera por atendimentos no SUS, um problema amplamente discutido nas diversas esferas de governo e nas entidades privadas de saúde”, diz o coordenador. Ele destaca ainda a importância no tratamento de pacientes com a chamada Covid longa e também no suporte a pessoas com doenças cardiovasculares e oncológicas.

Ambulatório Pós-Covid

Até 26 de setembro deste ano, 43.385 atendimentos movimentaram uma das mais bem sucedidas iniciativas de saúde do Hupe: o Ambulatório Multidisciplinar Pós-Covid. Primeiro de seu gênero no estado com atendimento integral pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ele é fruto do “Projeto Estratégico Assistencial Covid-19”. Desde junho de 2021, o Ambulatório tem sido celeiro de pesquisas inovadoras sobre o tema, aperfeiçoamento profissional e principalmente atenção multiprofissional aos pacientes, na recuperação de sua saúde física, mental e até mesmo da autoestima.

Um bom exemplo é o aposentado Gastão de Freitas Filho, 66 anos. Após passar meses em um CTI lutando contra o coronavírus, ele viu sua mobilidade altamente comprometida, alterando até mesmo as funções respiratórias. Encaminhado ao Ambulatório Pós-Covid, passou por uma triagem completa. “Esse local mudou a minha vida. Sou tratado com imenso cuidado. Desde a primeira pessoa que colocou a pulseira no braço lá na porta, até a fisioterapia, os exames, a médica… eu nem sabia se recuperaria a minha vida, depois da Covid. Hoje, consigo andar, consigo ter esperança”, resume.

É a partir das necessidades de pacientes como Gastão que surge o projeto, pautado na própria experiência do hospital durante o duro enfrentamento à Covid-19. O Hupe se debruçou sobre o atendimento, a formação de profissionais especializados no tratamento da doença e em pesquisas que desvendassem cada novo sintoma, cada nova sequela. Estudos estão em pleno desenvolvimento no espaço do Ambulatório, que foi ancorado na antiga Escola República Argentina, no Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel, ao lado do hospital. No local, foram construídos 17 boxes de atendimento, sete salas de assistência, espaços de coleta laboratorial e fisioterapia.

O projeto possibilitou a montagem de uma equipe altamente qualificada de profissionais assistenciais e administrativos, selecionados a partir de avaliações técnicas de experiência e formação. Atualmente, são médicos de 14 especialidades, uma equipe de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, fonoaudiólogos e técnicos de laboratório, além de uma coordenação de especialistas. A base de trabalho é a interação total entre as especialidades para nutrir todas as demandas de saúde do paciente.

Para Maria José da Silva, 63 anos, este diferencial foi fundamental para a sua recuperação. “Sou uma sobrevivente e agradeço muito porque tive este apoio aqui, onde tenho fisioterapia, psicólogo, acupuntura, cardiologia, e todo o amparo necessário para voltar a ter minha saúde”, diz a paciente que, em novembro de 2020, ficou 28 dias em coma induzido e ainda enfrentou dois meses de hemodiálise em enfermaria. Hoje, Maria José já não precisa das sessões de diálise e consegue andar sem ajuda de muletas.

Reconhecimento e êxito

Assim como Maria e Gastão, muitos dos pacientes atendidos no Ambulatório Pós-Covid necessitam até mesmo reaprender movimentos básicos, para retorno às suas rotinas com qualidade de vida.  “Alguns chegam ao ambulatório em cadeira de rodas e, ao terem alta, já estão correndo na esteira. É impressionante. A cada dia, uma vitória”, comemora o diretor-geral do Hupe, Ronaldo Damião. Ele também destaca que o êxito do projeto reside na união e no apoio de todas as instituições envolvidas, desde a Reitoria e unidades acadêmicas da Uerj até a SES-RJ e a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

“Temos muito trabalho a fazer, mas também a certeza de que estamos cumprindo nossa missão junto à sociedade”, declara o diretor. Uma missão que, inclusive, já recebeu o reconhecimento da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) que, em maio deste ano, enviaram uma comitiva especial para conhecer de perto a experiência do Ambulatório. “Dá para observar que é um trabalho impressionante que vocês estão realizando aqui”, resumiu, na época, a líder técnica da OMS para Covid-19, Maria Van Kerkhove.

Suporte especializado

Para o coordenador de Assistência Médica do Hupe, Rui Teófilo de Figueiredo Filho, foi exatamente para dar apoio às pessoas em recuperação que o projeto surgiu. “A ideia veio quando percebemos a dificuldade de dar alta ao paciente, porque ele não conseguiria se manter em casa sem ajuda. O ambulatório fornece esse suporte e garante uma recuperação acompanhada, de boa qualidade”, enfatiza. Rui também destaca o trabalho de análise e investigação de cada nova sequela deixada pela doença, o que reforça os aspectos de treinamento multiprofissional, produção de protocolos clínicos e coleta de dados.

Além das 14 especialidades clínicas presentes no ambulatório, os pacientes podem fazer exames cardiológicos e até de imagens, a partir do encaminhamento dos profissionais do Pós-Covid. Entre os atendidos, mais de 50% necessitam de atenção fisioterapêutica (respiratória e/ou motora). Porém, merece destaque o fato de que os atendimentos em clínica médica, psicologia, cardiologia, pneumologia e neurologia também concentram grandes demandas.

A cada período de seis meses, são produzidos relatórios de atividades que retratam, reforçam e direcionam as ações das equipes.  “É um desafio gigantesco, pois são tantas sequelas e apresentando-se sob diversas formas”, observa Rui Teófilo.  As ocorrências mais comuns são: dispneia, tosse, fadiga, queda de cabelo, depressão, ansiedade, tonteira e artralgia, entre outros.

Retorno à vida

A Covid-19 ainda é desafiadora e requer muitos estudos, para que se possa entender a evolução da doença e suas sequelas – como pode ser constatado com o caso de Gabriel Monteiro Queiroz, de 32 anos. Ativo e sem comorbidades, foi vitimado pelo coronavírus duas vezes. Na segunda, o quadro se agravou e os 44 dias de internação deixaram marcas importantes: episódios de esquecimento, fadiga e fraqueza muscular. Gabriel está entre os mais jovens atendidos no ambulatório multidisciplinar. Já com alta e reinserido à sua rotina de vida, apresenta novo fôlego e olhar de vida. “Comparando o dia em que eu cheguei ao ambulatório e o dia em que obtive alta, a diferença é muito grande. Um exemplo é a rampinha que a gente precisa subir para chegar ao ambulatório. No primeiro dia, foi muito cansativo vencê-la. Hoje, consigo correr!”, comemora Gabriel, lembrando que os períodos de internação e recuperação fizeram com que passasse a encarar a vida de maneira diferente. “Com mais esperança e fé”, completa.

Por Coordenadoria de Comunicação Social do Hupe – ComHupe